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Doutor (PhD) pela Universidade de Coimbra (Portugal)


19 jan

Wagner Merije (Wagner Rodrigues Araújo) é Doutor em Letras pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Se você preferir, PhD in Letters from the Faculty of Arts and Humanities of the University of Coimbra.

A Universidade de Coimbra, erguida em 1290, e considerada hoje uma das cinco mais antigas do mundo, é uma referência histórica para o Brasil desde a época colonial.A instituição, a primeira universidade de Portugal e a única de todo o reino português por centenas de anos, acolhe brasileiros desde o século XVI.

Coimbra, a “Lusa Atenas”, que se impõe a partir das colinas sobre o Rio Mondego, no centro de Portugal, construída por romanos, mouros, portugueses e gente de todo o mundo, monumento do passado eterno, berço de nascimento de seis reis de Portugal, antiga capital do país (entre 1131 e 1255), teve papel fundamental nos rumos dos acontecimentos da Independência do Brasil, mas a relação da cidade com o Brasil vem desde o início do século XVI.

Um dos primeiros portugueses a respirar o ar do Brasil foi o frade franciscano Henrique Soares de Coimbra, que desembarcou com Pedro Álvares Cabral e seus marinheiros na baía de Santa Cruz de Cabrália, no litoral sul da Bahia em 1500 sob as ordens de D. Manuel I, Rei de Portugal na época. No dia 26 de abril daquele ano, o primeiro domingo após a Páscoa, o religioso rezou a primeira missa no Brasil, no ilhéu da Coroa Vermelha, na Bahia, assistida pela tripulação das caravelas à distância, enquanto que em terra firme era assistido por cerca de 200 indígenas. Poucos dias depois, em 1º de maio, Frei Henrique de Coimbra celebrou sua segunda missa em solo brasileiro.

Por Coimbra passaram nomes curiosos ligados ao Brasil e Portugal. Dois ex-estudantes da Universidade de Coimbra, Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, estão entre os fundadores da cidade de São Paulo. Antes, Nóbrega já havia ajudado a fundar Salvador, na Bahia. Gregório de Matos, que nasceu em 1636 em Salvador, e por causa de seus versos e sátiras recebeu o apedido de “Boca do inferno”, em 1661 formou-se na Universidade de Coimbra. Um dos líderes da “Inconfidência Mineira”, Tomás António Gonzaga, ainda hoje estudado por seu poemário Marília de Dirceu, era filho de mãe portuguesa e pai brasileiro e se tornou bacharel em Leis em 1768 na Universidade de Coimbra. Gonçalves Dias, um grande expoente do romantismo brasileiro e da tradição literária conhecida como “indianismo”, escreveu em Coimbra, enquanto estudava na Faculdade de Direito, a “Canção do Exílio”, um dos poemas mais conhecidos da literatura brasileira, o que lhe valeu o título de poeta nacional do Brasil. José Bonifácio de Andrada e Silva ainda hoje é conhecido como o “Patriarca da Independência” do Brasil, foi estudante e professor na Universidade de Coimbra. Bernardino Machado, nascido no Rio de Janeiro, também foi estudante e depois professor catedrático na Universidade de Coimbra. Teve uma carreira política marcante e cheia de reviravoltas, sendo eleito presidente de Portugal por duas vezes, em 1915 e em 1925.

Alguns ex-presidentes do Brasil receberam o título de doutor honoris causa da Universidade de Coimbra, como foi o caso de Luiz Inácio Lula da Silva (2011), Fernando Henrique Cardoso (1995), Tancredo Neves (1985), José Sarney (1986), Juscelino Kubitschek (1960) e João Café Filho (1955). A Universidade de Coimbra também já conferiu o título de doutor honoris causa a outros brasileiros de destaque, como como Gilberto Freyre, Florestan Fernandes, José Murilo de Carvalho, Francisco Amaral Neto, Gladstone Chaves de Melo, Júlio Afrânio Peixoto, Hilário Veiga de Carvalho ou Evanildo Cavalcante Bechara.

As relações de Coimbra e Brasil e Brasil e Coimbra, como não podia deixar de ser, conta com vários portugueses conhecidos, como o Padre António Vieira (Lisboa, Portugal, 6 de fevereiro de 1608 –  Salvador, Brasil, 18 de julho de 1697), uma das mais influentes personagens do século XVII em termos de política e oratória, que se destacou como missionário em terras brasileiras. Miguel Torga emigrou para o Brasil, em 1920, ainda com treze anos, para trabalhar na fazenda do tio, proprietário de uma fazenda de café em Minas Gerais. Em 1928 entrou para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. O autor de Uma Abelha na Chuva, Carlos de Oliveira, nasceu a 10 de agosto de 1921, em Belém, estado do Pará, no Brasil. Filho de imigrantes portugueses, mudou-se aos dois anos para Portugal. Em 1933 Carlos de Oliveira muda-se para Coimbra, com o fim de prosseguir os estudos liceais e universitários, ingressando na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O ensaísta, professor universitário, filósofo e escritor, Eduardo Lourenço, foi estudante de Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) onde começou a sua carreira acadêmica, como professor assistente. A lista é longa em várias áreas do conhecimento.

Concluído ao longo de seis anos, este doutoramento representa uma longa estrada dedicada à segunda coisa mais nobre ao nosso alcance: aprender. Até aqui foi uma vida inteira voltada para o aprimoramento contínuo, criativo e crítico.

Tenho sinceros agradecimentos a fazer:

Aos meus antepassados (entes presentes) e a toda a minha família, aos meus amigos de toda parte; Às professoras e professores de outros tempos; Às Professoras Doutoras Orientadoras Ana Paula Arnaut e Marinei Almeida, por todos os aprendizados; Aos professores da FLUC, funcionáros e funcionárias da FLUC e à toda a comunidade da Universidade de Coimbra.

Dai-me, Senhor, a perseverança das ondas do mar,

que fazem de cada recuo, um ponto de partida para um novo avançar.

Cecília Meireles

Para navegar contra a corrente são necessárias condições raras:

espírito de aventura, coragem, perseverança e paixão.

Nise da Silveira

Para fazer o download da tese: https://merije.com.br/wp-content/uploads/2019/01/JS-e-ILB-entre-a-utopia-e-a-distopia_tese-completa-Wagner-Rodrigues-Araújo-FINAL_07022024.pdf

www.cienciavitae.pt/pt/4A16-A144-81DA

www.merije.com.br

www.aquarelabrasileira.com.br

www.mvmob.com.br

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Festival Literário de Ovar com Oficina e livro novo de Wagner Merije


01 set

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A sétima edição do Festival Literário de Ovar, uma organização do Município de Ovar, Portugal, coordenado pelo escritor e professor Carlos Nuno Granja, teve início em 04 e vai até 12 de setembro de 2021.
Autores/as de Portugal e outros países estarão por lá participando deste importante festival em terras lusas.

O escritor Wagner Merije ministra a oficina “Torpedos – Literatura na ponta dos dedos” no dia 10/09, das 16h às 18h30, na Biblioteca Municipal de Ovar.
Nesse mesmo dia, às 21h, na Escola de Artes de Ofícios de Ovar, tem apresentação do livro mais recente do autor, “Conhece-te a ti mesmo – Pensamentos e práticas à procura de novas primaveras” (Aquarela Brasileira Livros, 2021).

Para conhecer o livro e baixar gratuitamente o e-book, acesse o link.

A programação está repleta de bons convites e vale a pena prestigiar este grande evento literário e cultural do norte de Portugal.

Consultem a programação completa aqui:
https://cultura.cm-ovar.pt/pt/menu/737/festivais-literarios.aspx?

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Três vezes Prêmio Jabuti


23 out

Na lista dos finalistas da 58ª edição do Prêmio Jabuti 2016 tem dois livros em que Wagner Merije participa.

O livro “Uma cidade se inventa – Belo Horizonte na visão de seus escritores”, de Fabrício Marques (Scriptum, 2015) é um dos finalistas na categoria Reportagem e Documentário. Neste, Wagner Merije, é um dos escritores de BH.

O livro “In Fine”, de Marcos Maia, com ilustrações de Rogerio Bessa Gonçalves (Coletivo Supernova 2015) é finalista na categoria Ilustração. Neste Wagner Merije escreveu as Orelhas.

Como foi finalista em 2013, com o livro “Mobimento – Educação e Comunicação Mobile” (Editora Peirópolis), esta é a terceira vez de Merije com esse animalzinho simpático.

Que o seu Jabuti chegue logo com os novos livros que estão no prelo!

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Análise do livro Viagem a Minas Gerais


12 maio

Em outubro de 2014, por ocasião do 28º Salão Nacional de Poesia Psiu Poético, a Unimontes (Universidade Estadual de Montes Claros/MG) convocou alguns de seus alunos do curso de Letras para analisar obras dos poetas que seriam homenageados, entre eles Wagner Merije.
Sob orientação da professora Telma Borges o estudante, poeta e músico Cícero Neto escolheu o livro “Viagem a Minas Gerais”, e fez uma excelente análise.

Cicero Neto recita Viagem a Minas Gerais_Psiu Poético

“Wagner Merije é escritor, jornalista, compositor, e videasta. Reside atualmente em São Paulo, onde está envolvido como projetos multimídia ligados à literatura, música, vídeo, fotografia e arte-educação. Não é por acaso que sua arte é associada a essa interatividade e é conhecida como suprasensorial, despertando a atenção e interesse de crianças, jovens e adultos. Natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, Merije têm trabalhos no Brasil e exterior.
É autor dos livros de poesia Viagem a Minas Gerais (2013), Torpedos (2012), Turnê do Encantamento (2009) e Mobimento – Educação e Comunicação Mobile (2012), que trata da apropriação do celular na educação e comunicação e foi finalista do Prêmio Jabuti 2013 na categoria “Educação”. Esses trabalhos foram lançados em diversos eventos, como Bienal do Livro de São Paulo, Balada Literária (SP), Casa das Rosas (SP), WebCurrículo (SP), Psiu Poético (MG), entre outros, e podem ser encontrados em livrarias e espaços culturais e educativos.
Merije também é criador e curador de eventos literários, como “Sarau Suprasensorial”, “Sarau do Memorial Minas Gerais-Vale”, “Sumário Poético” e “Bienal de Poesia de Minas Gerais”, e já participou dos grupos de poesia performática “Tripa de Mico Estrela” e “Panela de Expressão”. Por dois anos foi titular da coluna “Bom de Ler”, na revista BHS, com dicas de leitura.
Como jornalista, trabalhou para veículos no Brasil (Revista Palavra, Rede Minas, TV Horizonte, TV SENAC, O Tempo, Vivo Music Tones, Rádio Inconfidência, Savassi FM) e no exterior (Folha de São Paulo/caderno Folha Ilustrada, Euro Brasil Press, ambos em Londres) e é colaborador de revistas, jornais e sites.
Em paralelo, junto e interfaceando com a literatura, Merije se lança em constantes novas aventuras, pois acredita que toda experiência alimenta a escrita.
Na música lançou os discos autorais “Coletivo Universal” (2004), “Peopleware” (2009), “Se você perder a voz” (2011), “Suprasensorial” (2012). Nele, é proposto a mistura de nossos ritmos com a participação de trinta e dois músicos, entre eles, um dos mestres do trombone brasileiro Raul de Souza, “Liganóis” (2013), o DVD “Feito Durante o Dia” (2013), entre outros trabalhos. (fazer uma associação ao nome artístico “Merije” que é feito durante o dia).
Como roteirista e diretor audiovisual têm vários trabalhos exibidos na internet, em canais de TV e festivais de cinema.
No campo das iniciativas sociais, é idealizador e gestor do projeto cultural e educativo Minha Vida Mobile – MVMob- www.mvmob.com.br, que tem o objetivo de capacitar estudantes e educadores para produzir conteúdo audiovisual com celulares, fazendo do telefone um aliado no processo educacional.

Este trabalho objetiva apresentar o livro Viagem a Minas Gerais, do escritor, educador, jornalista, compositor, poeta e videasta Wagner Merije, na perspectiva de uma etnografia poética. Ao fazer sua travessia pelo estado de Minas, o autor dialoga com as línguas, religiões, tradições, que são transmitidas pelas gerações. Nessa perspectiva, acreditamos que mesmo sendo frutos da formação de várias etnias, conseguimos encontrar um ponto, ou alguns pontos em comum em na formação de povo mineiro, atestando assim nossa mineiridade.
Em Viagem a Minas Gerais, Merije faz uma epopéia contemporânea sobre nossos múltiplos Gerais, nossa identidade única de ser mineiro, povo desconfiado, de fala pouca e olhar sucinto. Com esmero aborda nossas raízes cavadas por diversas tribos e quilombos, facetas que nos compõem e nos faz ser assim, resistentes e bravos como o cerrado que nos envolve. Traz à tona a importância das marcas deixadas pelos nossos ancestrais: a língua, culinária, folclore e religiões. O livro é composto por setenta e oito poemas e o autor, em sua epopéia, atravessa mais de 220 municípios mineiros.
Nossas Minas são muitas e os Gerais vastos: geografia, divisas, fauna, flora, tudo em Minas parece querer falar. Um falar pouco, de voz macia e lenta, e já diziam que o relógio aqui anda mais lento mesmo, numa toada de carro de boi, num fim de tarde que se esvai junto com o cigarro de palha do matuto. Tudo aqui vira poesia, tudo aqui dá prosa na beirada do fogão, e de lá pro terreiro, onde se afina a viola, enquanto isso conta-se um causo, pronto, é folia de reis, é cantoria de fazer inveja, é festa de mineiro.
Índios e negros, com suas tribos e seus quilombos, abriram picadas nesse mundo sem fim, deixando aqui, de forma indelével, com todo seu sofrimento e sangue derramado, uma força desmedida que reverbera de forma aguda na alma do ser mineiro. Essa mesma força, e uso aqui uma expressão criada pelo poeta Merije: “caldo da cultura que eu tanto gosto”, foi o caldo grosso que nos dá um tempero e um sabor sui generis.
Em Viagem a Minas Gerais percebemos a presença de uma etnografia poética suscitada por Wagner Merije, que cumpre, como bom poeta que é, além de tantos outros compromissos com a poesia, o de ser, como diria Ezra Pound, a antena da raça. Antena essa que nos faz enxergar o valor dessas etnias várias em nossa formação, reconhecendo-as e assim, nos fazendo sujeitos entendedores de nosso processo de formação, auxiliando e iluminando essa relação com o outro, com Minas, com o mundo.
João Rosa em Grande Sertão: veredas, dizia que “o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe pra gente é no meio da travessia”. É isso que o autor propõe. De forma audaciosa se embrenha e se move por entre nossas montanhas e cerrados, veredas e sertões, rios e cascatas, degustando o aprazível sabor de nossas quitandas, nossa gastronomia sagrada, num trabalho mágico de travessia poética, nesses vastos cantos de um mundo à parte chamado Minas. Essa obra sugere ao coração o orgulho em ser mineiro.

Consideremos o poema abaixo:

Sentimentos de Minas

Quem conhece Minas
Adquire mesmo sem perceber
Nova cor na retina
Uma emoção algo difícil de dizer

E de repente arde
E vem e fica
Uma latente saudade
Nostalgia física

Nunca mais esquecerás
Tua vida será antes e depois dessas esquinas
Fica no peito, batendo
Um sentimento de Minas

Percebemos como é impactante e transformador esse encontro, por toda carga emblemática que Minas representa. Quem a conhece nunca mais será o mesmo. O uso de metáforas, como por exemplo, “nova cor na retina”, acentua ainda mais o caráter desse encontro tornando-o inesquecível. Minas se transforma num sentimento, algo abstrato e forte, que fica e não vai embora, é incorporado à alma do sujeito, a saudade incomoda, palpita, faz lembrar sempre. Outro ponto a salientar é o fato de aqui em Minas, as esquinas assumem outra identidade, elas possuem outro valor, não são esquinas comuns. O nosso Clube da Esquina, de Beto Guedes, Toninho Horta, Lô Borges, Milton Nascimento, Fernando Brant entre outros, as tornaram mágicas através de harmonias extremamente sofisticadas e letras encantatórias de uma inventividade peculiar, numa construção musical esmerada, que toca a alma sem muito esforço.
Citamos agora, esse poema que demonstra o relacionamento intrínseco que a culinária assume na vida do mineiro:

República do pão de queijo

O cheiro do pão de queijo
Assando
Pode não iniciar uma revolução
Mas deixa o mineiro
De prontidão
Preparado para qualquer guerra
O pão de queijo, uma das iguarias mais emblemáticas da gastronomia mineira (especula-se que a receita exista desde o século XVIII), está representado no poema como uma fonte suprema de energia e disposição (o que o espinafre, por exemplo, representaria pro Popeye) e através dessa energia, se enfrentaria qualquer situação, até mesmo uma guerra. Dessa forma temos um elemento de nossa cultura gastronômica reafirmando nossa mineiridade.

No poema “Tribos de Minas”, Merije utiliza o nome das doze etnias indígenas espalhadas em territórios diferentes dentro do nosso estado, bem como expressões que nomeiam cidades, ruas entre outros lugares, nosso vocabulário. O poeta (re) afirma a profunda participação da cultura indígena em nossa formação, em nosso patrimônio, ao mesmo tempo que como diria Suassuna; “fala do povo para povo”.
Segundo Donizete Rodrigues em seu trabalho “Patrimônio cultural, Memória social e Identidade: uma abordagem antropológica”, património é o conjunto de bens, materiais e imateriais, que são considerados de interesse coletivo, suficientemente relevantes para a perpetuação no tempo. O património faz recordar o passado; é uma manifestação, um testemunho, uma invocação, ou melhor, uma convocação do passado. Tem, portanto, a função de (re) memorar acontecimentos mais importantes.
Na primeira estrofe há uma pergunta de extrema reflexão: “cadê os índios de Minas?” Diante do questionamento, tenta-se encontrar uma justificativa:

Foram pescar e nunca mais voltaram?
Migraram pelo território?
Ou viraram peça de museu?
Cadê? Cadê?

Chega-se a triste conclusão: “Parecem longe, LONGE”. O poema sugere dessa forma uma parcial extinção das tribos que aqui existiram. O que era abundância, hoje se tornou raro. Suscita uma análise crítica sobre nossos antepassados indígenas, colocando em xeque toda estrutura de tratamento para com eles.
Mais abaixo, o eu lírico nos diz:
E de repente percebo que estamos
Em toda parte

Outra (re) afirmação de que a cultura indígena está entranhada em nós, em nossos hábitos, em nossa memória. Estão em todo lugar, nos rodeia de toda forma, são nossos antepassados vivos, lúcidos. Passaram, sofreram, mas deixaram sua cultura.
Finalizando, me apoio no movimento antropofágico de Oswald de Andrade, inaugurado na semana de arte moderna de 1922, o qual era composto por duas vertentes. A primeira se voltava para a produção nacional, ou seja, a cultura indígena, liberação dos instintos e valorização da inocência. A segunda era baseada na proposta de não rejeitar, não refutar o que era oriundo da Europa ou de outros países. Sendo assim, usamos num contexto filosófico o termo alteridade, ou seja, eu respeito, digiro, devoro, me aproprio, me construo na cultura do outro, e assim, me faço humano. Nessa medida, trabalha-se o processo de aceitação do indivíduo, tornando mais aprazível as relações com o próximo, consigo mesmo e com o mundo.
Essa relação fica clara na estrofe abaixo:

Índia Minas
Somos índios em alma, práticas e palavras
Piracema, Pirapora, Piumhi
Sapucaí-Mirim, Paraopeba
A cultura é viva
Mesmo os que já se foram estão vivos
Na memória, o dia-a-dia
Jaboticatubas, Janaúba, Januária

Merije deixa claro que somos frutos de negros, índios, mulatos, caboclos, mamelucos, somos miscigenação, somos caldo da cultura desse povo que nos forma, que nos faz ser assim, unicamente mineiros, unicamente humanos.

Tribos de Minas

Macro-jê
Caiapós, Tupys, Guaranys, Krebaks, Botocudos
Cadê os índios de Minas?
Foram pescar e nunca mais voltaram?
Migraram pelo território?
Ou viraram peça de museu?
Cadê? Cadê?
Parecem longe, LONGE

Chamo, CHAMO por NÓS
Acaiaca, Aimorés, Açucena, Abaeté
Aiuruoca, Almenara, Araçuaí, Araguari
Bambuí, Botumirim
E de repente percebo que estamos
Em toda parte
Jequitinhonha, Joaíma, Juatuba
Machacalis, Manhuaçu, Manhumirim

Minas tem o corpo de índia
A cultura indígena está entranhada
No corpo de Minas
Itabira, Itabirito, Itaúna
Itajubá, Itambé do Mato Dentro
Itapecerica, Igarapé

Minas é uma Indianápolis
Basta ouvir seus sons
Guanhães, Guaraciaba
Guarará, Guaxupé, Gurinhatã

UM TROVÃO . . .
É TUPÃ!!!

Na pajelança os espíritos vão dançar
Junto com Iara e Oxossi também
Resiste Bugre, criado nas Braúnas
Nos Buritis, no Buritizeiro
Irmãos de Caeté, Carapós e puris
Das bandas de Camanducaia, Cambuí
Cambuquira e Carandaí

Índia Minas,
Somos índios em alma, práticas e palavras
Piracema, Pirapora, Piumhi
Sapucaí-Mirim, Paraopeba
A cultura é viva
Mesmo os que já se foram estão vivos
Na memória, no dia-a-dia
Jaboticatubas, Janaúba, Januária

O TROVÃO . . .
É TUPÃ QUE PERGUNTA . . .
E a pergunta ecoa:
Cadê os índios de Minas?
Cadê eu?
Cadê você, irmão brasileiro?
Inimutaba, Ipanema, Ipatinga
Ubá, Ubaporanga, Unaí

Cadê?
ARANÃ, CAXIXÓ, MAXAKALI, PANKARARU
PATAXÓ, MOKURIÑ, XUKURU-KARIRI
XAKRIABÁ, CAFÚ-AWA-ARACHÁS”

Por Cicero NetoDepartamento de LetrasUnimontes

Fica a dica de leitura: “Viagem a Minas Gerais”.
Acompanhe a trajetória do livro aqui: www.merije.com.br/diario/viagem-a-minas-gerais-o-livro

Cicero Neto lê Viagem a Minas Gerais_Psiu Poético_10102014

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