
Foto-arte: Wagner Merije
Na pele
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino.
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
A que distância!…
(Nem o acho…)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui. . .
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .
Pára, meu coração! Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!. . .
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!. . .
Álvaro de Campos, 15-10-1929. 1ª publ. in Presença, nº 27. Coimbra: Jun.-Jul. 1930.
SONS, SABERES E SABORES DA LUSOFONIA – II EDIÇÃO
4 A 6 DE JULHO DE 2019
PRAÇA DE CABO VERDE – BAIRRO NORTON DE MATOS
COIMBRA – PORTUGAL
06/07/2019 – Tertúlia “Literatura(s) da lusofonia”
Pires Laranjeira (Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra)
Wagner Merije (doutorando na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra)
João Rasteiro (Portugal)
Ana Paula Tavares (Angola)
Domingas Monte (Angola)
Mediação: Rui Amado
Confira a programação completa:
Jantar de confraternização das Aulas Magistrais 2019 ministradas pelo professor Boaventura de Sousa Santos no CES em Coimbra, Portugal. Aula 4 – 24 de maio 2019- “A religião, a espiritualidade e a política. O fim da era secular e o princípio de quê?”
Wagner Merije apresenta o poema “Coragem”, de sua autoria, cujas palavras conversam com temas debatidos por Boaventura, que assiste com um belo sorriso no rosto, junto de professores e investigadores de vários países.
Vídeo por Célia
O diseur Wagner Merije apresentou sua poesia para o público da cidade de Setúbal, em Portugal.
…
As apresentações fizeram parte do evento Poesia Sem Vergonha, que foi assim apresentado
A Raquel Lima vem de Coimbra até Setúbal e traz consigo uma bagagem já bem pesada no mundo do spokenword, iniciada em 2010. A sua presença em palco põe-nos a pensar. Vão lá ao YouTube para ver que não estamos a mentir. E depois venham à Casa do Largo mais uma vez, para ouvi-la a ela e aos seus convidados e convidada: Alexandre Gigas, Apolo de Carvalho, Luciana Carmo e Wagner Merije.
ENTRADA LIVRE
Este é o segundo evento Poesia sem Vergonha. Em janeiro tivemos a Casa cheia com o Isma XG e convidados/as. Ao longo de 2019 ainda haverá mais dois momentos. Fica atento/a ao Facebook e Instagram (@juventudesetubal) ou subscreve a newsletter mensal em http://juventude.mun-setubal.pt.
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Raquel Lima é poeta e artista de spokenword nascida em Portugal, com mãe angolana e pai são-tomense. Publicou a sua poesia em várias línguas (fanzines, antologias literárias, revistas de literatura experimental, etc.) e organiza oficinas de poesia desde 2011 em escolas, associações culturais e sociais, festivais e outras instituições, destacando o ‘Workshop de Poesia e Género: para uma escrita poética interseccional’ dinamizado em Tartu (2013), São Paulo (2017), Coimbra, Curia e Vigo (2018). Participou em vários eventos nacionais e internacionais dedicados à literatura, spokenword, tradição oral, contadores de histórias e poesia em Portugal, Itália, França, Polónia, Reino Unido, Bélgica, Estónia, Brasil, Espanha, Holanda, Suécia, Suíça, São Tomé e Príncipe entre outros países. Fundou a associação cultural Pantalassa (2011) focada na arte-educação e no artivismo e foi Coordenadora Geral e Diretora Artística do PortugalSLAM – Festival Internacional de Poesia e Performance (2012-2017). Raquel é também estudante de Doutoramento em Pós-Colonialismos e Cidadania Global no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, e a sua investigação centra-se em oratura, raça, género e movimentos afrodiaspóricos.
Alexandre Gigas é poeta, performer e editor. Tem cinco livros publicados, crónicas, textos ficcionais e poemas em vários jornais e revistas. Autor dos folhetins «Mosto» e “ANARKITEKTURA”. Integra a Rádio Universidade de Coimbra, onde trabalha em programas sobre literatura, poesia e arte. Tem participado em Festivais Internacionais de Performance.
Apolo de Carvalho é estudante na grande universidade da palavra ensinada à sombra dos Baobás”. É nesta frase do cunho de Amadou Hamapté Bá, que se define Apolo de Carvalho. Nascido em Cabo Verde, país de pedras e poetas, escreve o que chama de textos poéticos, recusado porém, ser chamado de poeta. Afirma que, a poesia emana do povo que formula e fornece toda a matéria-prima, a ele somente toda autoria e o título de poeta. A sua escrita poética, é militante e engajada. Procura por textos vulcânicos, violentamente emancipadores. Escreve sobretudo na sua língua materna, o kabuverdianu.
Luciana Carmo é artivista voltada às minorias políticas, poeta, gestora cultural e performance griot. Campeã do SLAM Coimbra 2017. Foi co-organizadora e curadora da cimeira cultural The Art of Organizing Hope – New Narratives for Europe, 2017 onde encenou a performance PANTÃ – O Eterno Retorno do Encontro, peça mobilizada em relação à luta dos povos originários brasileiros.
Wagner Merije é poeta, escritor, editor, jornalista, compositor, gestor cultural e educador, envolvido com projetos ligados à educação, literatura, música, cinema/vídeo, fotografia, dança e teatro. Tem trabalhos apresentados em vários países e alguns prêmios na bagagem. Publicou até então os livros Mexidinho (2017), Astros e Estrelas – Memórias de um jovem jornalista em Londres (2017), Cidade em transe (2015), Viagem a Minas Gerais (2013), Torpedos (2012), Mobimento – Educação e Comunicação Mobile (2012) – finalista do Prêmio Jabuti 2013, e Turnê do Encantamento (2009). É doutorando na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
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No âmbito da rubrica Quarta do Meio da Casa do Largo – Pousada da Juventude de Setúbal
Oh! Safo_Foto Wagner Merije
Coimbra Cidade Livro Aberto – Caminhos da Palavra é uma mostra fotográfica que revela um pouco de Coimbra através das imagens e suas entrelinhas.
Um descortinar de olhares sensíveis e visões particulares.
Participam Felipe Vieira, Marcela Uchoa, Mick Maxwell, Susana Elaine, Bruno Macêdo Mendonça, Ana Baptista e Wagner Merije
“O verdadeiro fotógrafo, como de resto qualquer artista, deve escolher o caminho com o coração e nele viajar incansalvemente, contemplando como pessoa inteira tudo o que é vivo. Absolutamente íntegro, sem propósito alcançar, sem submissão a regras e fórmulas, sem necessidade de parecer brilhante ou original, só assim autêntico e livre pode captar o espírito criador em movimento. Aquele que mergulha na viagem do ver tem que estar com as portas da percepção sempre abertas, sabe que diante do eterno precisa esquecer de si próprio. A criação é o que importa, caminho de conhecimento, poderosa arma de encontrar o mundo. O ato criativo é contínuo e sem fim, a prática sempre renovada de contemplar humaniza a visão, anula verdades, permite a inventividade, realça o eu interior. A recompensa é a experimentação mística do encontro com a beleza. O fotógrafo sente neste momento fulgaz algo parecido com o satori zen budista, um momento de revelação, um indefinido e maravilhoso prazer. Nessa respeitosa relação consigo mesmo, o fotógrafo cria algo de original com espontaneidade e fluência, o observador se confunde com a coisa observada, o vazio se instaura, o que estava contido volta a pulsar, o que antes era pressentimento agora é realização. A pureza do seu diálogo, por mais fotos que faça, por mais poeira que tire dos olhos, continuará andando solitário com sua câmera, mas ele também sabe que está aprendendo outra arte bem maior, a arte de não ser coisa alguma, de não ser mais que o nada, de dissolver a si próprio no vazio entre o céu e a terra.”
Fernando Pessoa
LOCAL: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Entrada do Anfiteatro III – 4º Piso
DATA: 05/04/2019 a 30/04/2019
21ª Semana Cultural da UC – Caminhos
Agradecimentos: Universidade de Coimbra, Equipa da Semana Cultural da UC, FLUC, colaboradores e amigos.
Idealização: Aquarela Brasileira Multimedia
Programação/Curadoria: Wagner Merije
Encontro de pessoas, versos e sons, com liberdade, com carinho, com respeito à diversidade.
Momento de sentir, ver, ouvir, falar, tudo em harmonia.
Cada participante traz referências para somar, para partilhar, para experimentar com o público.
Interartes.
Participam Paulo Branco Lima, Júlio Martins – Risko, Lucerna do Moco, Rita Gomes, Pedro Vaz, Lanna Santos, Wagner Merije +++
Ao ar livre, entrada livre, participação livre. É primavera!!!
Data: 23/03/2019 – 17h – Free
CAPC CÍRCULO DE ARTES PLÁSTICAS DE COIMBRA
Círculo Sede – Rua Castro Matoso, n.º 18, 3000 – 104 – Coimbra – Portugal (ao pé das Monumentais)
21ª Semana Cultural da UC – Caminhos
Agradecimentos: Universidade de Coimbra, Equipa da Semana Cultural da UC, CAPC, Catarina Bota Leal, colaboradores e amigos.
Idealização: Aquarela Brasileira Multimedia
Mostra de artes que tem como mote os caminhos que as crianças trilham com seus pais, avós e familiares para chegar à escola.
São representações visuais que mostram a diversidade de caminhos nas vidas de todos nós.
Uma criação conjunta das crianças do Jardim de Infância dos SASUC, com muito carinho e criatividade. Participam Leonor, Sofia, Madalena, Pilar, Joaquim, Clara, Júlia, Pedro, Mafalda, Maria Inês, Rita, Rebeca, Henrique, Guilherme, Maria Rita, Inês, Dora
Apresentada, primeiramente, no Hospital Pediátrico, permite-nos perceber o hospital para além de sua finalidade de acolhimento de doentes, mas também como um local de convívio de pessoas diversas, de encontros, de aprendizagem, de amor, de esperança, de cura pela arte.
Arte em espaços não convencionais, aberta ao público.
Valorização dos saberes e talentos das crianças.
Em seguida, as criações serão apresentadas nas dependências do Jardim de Infância do SASUC.
Local: Hospital Pediátrico da Universidade de Coimbra (Entrada pelas Consultas Externas) –Av. Dr. Afonso Romão, 3030
Período: De 21/03/2019 a 10/04/2019
Horário: 8h30 às 17h00
Informações: faleaquarela@gmail.com
21ª Semana Cultural da UC – Caminhos
Agradecimentos: Universidade de Coimbra, Equipa da Semana Cultural da UC, Equipa do JI SASUC, Joana Vila Nova, Raquel Maricato, Nuno Freitas, Odete Gonçalves, Equipa do Hospital Pediátrico do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), Dra Salomé Marques, Elisa Martins, Lucio Oliveira, colaboradores. e amigos.
Idealização: Aquarela Brasileira Multimedia
Concepção: Wagner Merije
Camões redivivo_color_Wagner Merije
Mostra de artes plásticas que busca recriar parte do imaginário de grandes personalidades de Coimbra em fusões com elementos da cultura portuguesa.
Uma livre interpretação pictórica de um rico universo de histórias e simbolismos.
Participam Pedro Góis, Catarina Bota Leal, Domingues Pinto, Élia Ramalho, António Azenha, Lobo e Wagner Merije
Inauguração: 19/03/2019 – 18h30 – 20h30
Visitas: 20/03 a 12/04/2019 – Seg – Sex: 9h30 às 12h30 e 14h00 às 18h00
Local: Casa da Escrita
Rua Dr. João Jacinto Nº 8, Sé Nova – Coimbra/Portugal
Tel: 239 853 590
Site: www.casadaescrita.cm-coimbra.pt
Email: casadaescrita@cm-coimbra.pt
21ª Semana Cultural da UC – Caminhos
Agradecimentos: Universidade de Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, Casa da Escrita, amigos e colaboradores.
Idealização e produção: Aquarela Brasileira Multimedia
PALAVRAS, PESSOAS, ARTES
Palavras que são reinterpretadas.
Das palavras nascem ideias e diálogos e junto o desejo de trazer as pessoas que admiramos para o nosso convívio mais próximo. É uma demonstração de respeito, de carinho, é como querer que elas estivessem presentes agora, entre nós, e não só no passado. Pois suas mentes criativas continuam a nos estimular a ir além, por nós e por elas.
Somos todos multifacetados! Há nesta mostra um enfrentamento de linguagem pelos criadores, em uma dinâmica que projeta palavra e vida em imagens e formas.
Lembrando Walter Benjamin, existe uma linguagem da escultura, da pintura, da poesia, e essas estão fundadas em outras. Toda obra de arte possui um ideal a priori, carrega em si uma necessidade de existir, cabendo ao crítico evidenciar, justamente, essa necessidade e nenhuma outra.
Assim na Terra como no Céu está fundada em um olhar coletivo, o que faz com que a tarefa de delimitar seu significado, ou concebê-lo de forma precisa, não seja fácil. O elo entre quem aprecia a obra e a obra se dá pela relação de sentidos. E aqui eles são múltiplos!
Wagner Merije
Vlog do Wagner Merije