Conheço policiais que não dormem de remorso
E políticos, que para dormir, se entopem de narcóticos
Conheço muitos homens de caráter falho
Esses mesmos homens que roubam o Estado
Conheço líderes confiáveis
E tantas guerras tão intoleráveis
Desconheço homens ricos sem partido
E banqueiros que não sejam bandidos
Conheço presos que pintam bem como Dali
E jovens saltimbancos que não têm como sorrir
Conheço mães que pros seus filhos dão desprezo
E homens que matam e roubam e não são presos
Conheço a adrenalina dos mistérios
E a perplexa vaidade dos cemitérios
Conheço a solidão de quem não tem ninguém para amar
E crianças que adorariam ter alguém para abraçar
Conheço padres que pensam dedicadamente no seu povo
E muitos papas que canalhamente esbanjam muito ouro
Conheço a lua que é só boa para poucos
E tantos bruxos que se entopem de tesouros
Conheço deuses que abençoam o futuro
Conheço bem a altura desse muro
Conheço a dor que grita louca pela rua
Conheço essa raiva que também é sua
Conheço o álcool do dinheiro
E o porre dos sonhos que todo dia perco
Conheço a grave anemia da pobreza
Essa doença não é para quem mereça
Conheço garotas que merecem o meu amor
E o veneno rápido que se esconde em tanta flor
Conheço o brilho das estrelas
E outros brilhos que só trazem dor de cabeça
Conheço a inquietação de muitos negros
E tantas mulheres dignas de respeito
Respeito todas as lutas contra o preconceito
Contra sexo, cor, credo, lado, defeito
Conheço a ira que o povo guarda
E o tom da paz que me agrada
Conheço a indignação que não quer desaparecer
E os limites do limite do que posso fazer
Conheço pessoas que não dormem de remorso
E quero que essas pessoas evaporem de desgosto
…
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Um poema de Wagner Merije
BH, 1995 + dez/2001
Publicado até agora no livro “Cidade em transe” (Aquarela Brasileira Livros)
Tags: brasil, cidade em transe, corrupção, crítica social, literatura, merije, mundo, poesia, política, suprasensorial