Neste Dia do Poeta (20/10), compartilhar poesia e pensamento é o que há!
República do Pão-de-Queijo
O cheiro do pão-de-queijo
Assando
Pode não iniciar uma revolução
Mas deixa o mineiro
De prontidão
Preparado para qualquer guerra
Acidente poético
Tá lá o poeta estendido no chão
Sem carteira assinada, sem plano de saúde
Atropelado por um ônibus que não parou
Não parou para a poesia passar
Voou livro para todo lado
Quebrou o sonho em sete partes
As vísceras de seu discurso estão à mostra
Já aglomeram muitos curiosos
Tem gente filmando no celular
Chama o Samu, 190
Parou o trânsito vira o caos
Parece que o cara tá mal
O poeta caído no chão
Ninguém chega para ajudar
Do seu bolso um poema novo escorre
Incompleto como aqueles ali olhando para ele
Tá sangrando poesia para todo lado
A polícia chega com a sirene a toda
A turba aproveita para gritar
Uma senhora começa a chorar
Não é a mãe mas é a única a acodir
Ajoelha nas páginas dos livros
E abraça o poeta destroçado
O poeta ali morre não morre
Mas a poesia era aquela mulher
Corajosa com um amor na mão
Viu que o homem ali caído
Podia ser um filho dela
Filho que ela nunca tivera
Mas na EJA, depois do trabalho
Descobriu na leitura um novo processo
Onde tudo que sonha é possível
E os homens do Samu vinham com a maca
Enquanto a polícia cercava o local
Os celulares registravam tudo
Corre aí
Dá oxigênio para o poeta
Que ele pode sobreviver
Vamos levar para o Pronto-Socorro
Que gente assim
Merece viver
“A poesia é um princípio muscular e uma revolução para o corpo-espírito e para o intelecto e o ouvido.
Criar imagens e cenas, mesmo quando se utiliza uma melodia, não é o suficiente.
É necessária uma poesia de pura beleza e energia que não mimetiza, mas se une e influi na realidade e enuncia as grandes visões diárias.”
– Michael McClure